sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

APROXIMAÇOES E DIVERGENCIAS ENTRE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON

 1) as aproximações (aspectos em comum, semelhanças) que podem ser identificadas nas teorias desenvolvidas por Piaget, Vygotsky e Wallon; 

Os três eram sociointeracionistas, pensavam o homem como um ser social, tinham formação acadêmica em outras áreas que não a educação e deram contribuições valiosas à educação através das teorias psicogenéticas. Todos acreditavam que o conhecimento é construído gradualmente, e levaram em conta a base biológica do funcionamento psicológico. Acreditavam que os processos filogenéticos e ontogenéticos tinham implicações diretas no desenvolvimento. 

2) os distanciamentos (divergências e diferenças) na concepção de desenvolvimento e aprendizagem nos trabalhos dos três autores. 

Piaget e Wallon focaram suas análises sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo do nascimento à adolescência, já Vygotsky pensou o desenvolvimento e aprendizagem como algo que ocorre por toda vida. Vygotsky e Wallon viam o desenvolvimento como resultante do meio, para Wallon, os estágios sofriam rupturas e retrocessos, portanto, se o meio mudasse, isso impactaria o desenvolvimento. Quando Vygotsky aborda a relação entre o pensamento e a fala nos estágios iniciais do desenvolvimento filogenético e ontogenético, afirma não encontrar nenhuma interdependência específica entre as raízes genéticas do pensamento e da palavra (Vygotsky, 2001). Desse modo, a relação entre pensamento e palavra não é um pressuposto para o desenvolvimento histórico da consciência. Enquanto que para Vygotsky e Wallon, do social para o indivíduo, Piaget via o desenvolvimento cognitivo e afetivo como uma “marcha para o equilíbrio”. E embora os três pensassem o homem como um ser social, Piaget privilegiava a maturação biológica como condição ao desenvolvimento cognitivo (aprendizagem), para Piaget, conhecimento é construído do individual para o social. Enquanto que Vygotsky, a interação social e Wallon, a afetividade, para Piaget, os estágios de desenvolvimento eram ordenados e universais.

Piaget pensa o social e suas influências sobre os indivíduos pela perspectiva ética e Vygotsky, pela perspectiva cultural e Wallon, pela perspectiva cultural e afetiva, para Piaget o desenvolvimento cognitivo é determinado pela oposição da coação à cooperação socioculturais como determinantes. Wallon considera questões econômicas, socioculturais e afetivas como determinantes. Para Piaget, o processo de pensamento é resultado dos esquemas; a linguagem é resultado do desenvolvimento dos processos mentais. Piaget vincula a linguagem aos modos mais primitivos de organização do real pela criança e observa que as diversas conexões causais e espaço temporais se constroem sob a influência dos porquês e das questões de origem que a linguagem permite multiplicar. Por outro lado, quando o autor pesquisa o pensamento simbólico, trabalha o tempo inteiro com o material linguístico que recolhe das crianças, estabelecendo reciprocidades entre linguagem e pensamento e indicando relações entre a manifestação verbal e sua interferência no plano da construção do símbolo Vygotsky e Wallon não só viam pensamento e linguagem com interdependentes e recíprocos. Existem, no desenvolvimento da criança, um período pré-linguístico do pensamento e um período pré-intelectual da fala; no entanto, embora afirme a inexistência de um elo primário entre pensamento e fala, Vygotsky não se alinha às teorias associacionistas que tomam o pensamento verbal como resultante da união externa entre pensamento e fala. Aliás, o fracasso destas teorias, segundo este autor, foi tributário justamente deste tipo de conexão mecanicista, que tentava explicar as propriedades do pensamento verbal fragmentando-as em seus elementos componentes. Vygotsky propõe, então, a substituição da análise por elementos pela análise por unidades que ele encontra nos significados das palavras. O significado de uma palavra constitui uma unidade indecomponível dos dois processos, de forma que não podemos dizer que ele seja um fenômeno da linguagem ou um fenômeno do pensamento. Mas atribuía grande importância à aquisição da linguagem, pois ela diretamente influenciava as funções superiores. O estatuto da linguagem como fundamento da organização da realidade - que consideramos como uma problemática específica e essencial na modernidade - é encontrado na consideração de que a linguagem precede a realidade. É sobre a linguagem que a criança precisa exercer sua sagacidade, e o funcionamento linguístico não se separa do cognoscente. Antecipando-se ao conhecimento e à compreensão, a linguagem não se reduz, como vimos, a uma coleção de etiquetas das quais a criança extrairia noções e coisas que ela já consegue conceber. Vygotsky, por sua vez, afirma que o associacionismo não investiga as transformações dos modos de generalização e materialização do significado Porém, Wallon já via a emoção (o choro, o riso, tom de voz agradável ou desagradável) como a primeira linguagem da criança. Nesta afirmação há a demarcação de uma lacuna: a perspectiva associacionista reduziria a linguagem à sua face instrumental, pois não permitiria explicar as transformações estruturais e psicológicas postas em marcha com o advento da linguagem. Segundo o autor, o significado da palavra altera a relação entre pensamento e palavra, sendo o próprio significado o elemento que lhe permite ultrapassar uma abordagem meramente instrumental da linguagem e considerá-la como fundamento da estruturação e organização do pensamento.

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